segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O INFERNO DE MALAFAIA


Ontem, o pastor Silas Malafaia, de inegável habilidade retórica, entrevistado por Marília Gabriela, pronunciou uma frase de rara franqueza enquanto discursava sobre os malefícios do ‘homossexualismo’:

“Eu amo os homossexuais como amo os bandidos e os assassinos”.

 O religioso, naquela ocasião, mostrava como diferenciava o pecador de seu pecado. Ele, um pastor de sucesso (vide revista Forbes), conciliaria o amor pela humanidade ao passo que reprovaria as práticas pecaminosas. O fato é que afirmações dessa natureza constituem um discurso odioso travestido de condescendência.

Malafaia pode discorrer à vontade sobre o pecado. Ele pode pregar que ingerir álcool, homossexualidade, sexo heterossexual fora do casamento são pecados. Ele que comercialize o paraíso do modo que melhor lhe apeteça. Não me interessa debater religião com ele. Não me importa discutir a arquitetura de seu céu nem de seu inferno. Não posso regular como funcionam lugares que não tenho certeza se existem.

O fato é que se valer de uma visão de mundo particular para cercear direitos de indivíduos que não comungam daquela visão é antiliberal. Compreendo que argumentos conservadores também fazem parte da dinâmica democrática. Mas, numa democracia, a moral religiosa sobrevive pela capacidade de convencer os indivíduos acerca de sua legitimidade, não na manutenção de barreiras jurídicas aos cidadãos livres e capazes (nesse caso, restrições ao casamento homoafetivo e ao direito de adotar).

Uma coisa é uma moral religiosa específica considerar homossexuais ovelhas desgarradas, condenados ao inferno.  Outra coisa é uma moral religiosa específica colonizar o mundo das relações jurídicas. Bandidos e assassinos afetam a propriedade e a vida de terceiros. Têm condutas antijurídicas. É uma ignomínia (no mundo das relações civis) comparar tais práticas à homossexualidade.

O modo que dois indivíduos livres e capazes exercitam sua sexualidade não é problema do Estado. Desde que não afetem compromissos procedimentais de terceiros, não os desabona moralmente para o exercício pleno do Direito. A ameaça do inferno não autoriza o Estado a qualificar indivíduos como cidadãos de segunda categoria.

Se liberdades civis incomodam líderes religiosos, eles que convençam os cidadãos a não exercê-las. Impedir o Estado de reconhecer a legitimidades dessas demandas é usar a democracia para combater a democracia. O papel do Estado é tratar os indivíduos igualmente sem privilégios e sem perseguições. Cada um que busque seu ideal de vida boa.

Em tempo: As considerações de Malafia não fazem dele um criminoso. Fazem dele um conservador rasteiro, um parlapatão, emprestando a conhecida fala de... bom, deixa pra lá,  isso já é outra história.  


3 comentários:

  1. Boa noite Rodrigo,

    A sociedade evolui, isto é um axioma. Mas, as evoluções se calcam em valores, costumes, religião, etc, e não é da noite para o dia que se modificam e se pacificam.

    Foi muito interessante a entrevista do pastor Silas Malafaia no programa da Marília Gabriela.

    Não entrando em pormenores, ficou claro que a "Gabi" faz parte de um movimento moderno da sociedade que se baseia na quebra do tradicional. As posições dela foram diametralmente opostas às do Pr. Malafaia. Digo isso, que ela não se encaixa em um meio termo, porque não teve argumentos para tal, apenas discordou.

    Criticar costumes e valores que se baseiam na Bíblia Sagrada de milhares de anos e que norteou civilizações por mais tempo que a nossa era é fácil/moderno quando não se tem argumentos, quando se relativiza e mantém superficialidades.

    Não achei que ele comparou expressamente homossexual com bandido, de forma nenhuma, ele ficou no contexto de discordar do "comportamento", assim como discorda do ato de cometer um crime, mas ela colocou como se fosse a mesma coisa. Ele não disse que considera um homossexual igual a um criminoso, isso foi a conotação que ela vestiu.

    Não frequento igreja nenhuma, mas baseio meus valores sim em um livro sagrado, milenar, com fatos e textos inspirados por força divina, na minha opinião. E é isto que pode mudar a vida de uma pessoa; o fato de não crer no que apenas se vê; fé! A fé abre possibilidades de se desgarrar do material, do cortante, do falho, do humano.

    Creio que através da fé e da Bíblia Sagrada, livro que prega o amor ao próximo como primeiro mandamento, e, para isso, precisa-se de inúmeros atributos como respeito, tolerância, igualdade, etc; ser uma boa opção para se fundamentar valores e costumes amplos, gerais.

    Sempre haverá homossexuais na sociedade e sempre haverá os que concordam e os que discordam, os que praticam e os que não praticam. Preconceitos não devem ser aceitos, primeiro de tudo, porque é um desrespeito ao próximo e, segundo, porque todos são iguais perante quaisquer leis, e ele apontou projeto de lei que foge esse escopo. Defender seu ponto de vista baseado na religião ou em práticas é uma particularidade de cada um. Ele defendeu baseado na religião, na Bíblia e visão dele, senão, seria hipócrita.

    Acho que cada um faz o que quiser com o corpo, é o livre arbítrio; viver do eu sei e/ou do eu sou.

    Agradeço o convite e espero ter contribuído e não perturbado nem polemizado o blog.

    Respeitosamente,

    Hugo.

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  2. É bem por aí.

    A primeira pergunta que eu faço quando alguém se diz "contra o casamento gay" ou contra o direito de casais homossexuais adotarem é: Que diabos você tem a ver com isso? COMO é que uma pessoal que NÃO é homossexual, vai se preocupar como dois seres humanos adultos e vacinados escolhem se relacionar?

    Mas claro, quando se trata da religião, coletividade, tem outros ares, outros interesses de manipulação de massas... enfim.

    Abraços

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