sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ALAGOAS SELVAGEM


THE TYGER

Tyger! Tyger! burning bright
In the forest of the night,
What immmortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

(William Blake - Songs of Experience)





Há um assanhamento refletido quando nosso povo apregoa o clichê “Brasil não é para principiantes”. A verdade é que gosto dessa petulância brasilianista que mesmo sem conhecer outros lugares do mundo, afirma com majestosa intuição, sermos mais complexos que as outras paragens do orbe terrestre. Gosto desse clichê a ponto de ampliá-lo como quem faz um puxadinho numa casa de praia: Se o Brasil não é para principiantes, Alagoas não é para principiantes em Brasil.

Alagoas é a minha Esfinge; há muito fui devorado por ela. Não é um enigma simples entender como por aqui todos os inimigos políticos possuem um amigo em comum; e como todos os aliados políticos possuem desavenças ancestrais. Apenas aos alagoanos é dada a graça de entender coisas como Fernando Collor e Renan Calheiros, este, eleito hoje Presidente do Senado. Eternamente serei um estrangeiro.

A beleza primordial também é assustadora. Alagoas possui no seu povo e na sua terra um encanto ao mesmo tempo edênico e bárbaro. Alagoas sempre me lembra The Tyger - poema de William Blake. Blake descreve o tigre compassadamente brilhante e feroz. Simétrico e selvagem. Ardente e mortal.

Alagoas do povo que assombrado, assiste diariamente a corrupção de sua elite política. Elite que é democraticamente eleita por este mesmo povo. Comandando um Estado campeão em incontáveis modos de atraso, sempre os mesmos nomes, algumas vezes acompanhados por Júnior, Filho ou Neto.

A terra que gerou algumas das figuras mais interessantes de nossa república é a mesma terra que o debate político é regulado pelo poder do crime. O povo mais hospitaleiro é também o povo que mais mata no Brasil. Alagoas, terra na qual as fotografias de paraísos ensolarados são manchadas pelo derramamento cotidiano de sangue humano. Quantos paradoxos Alagoas ainda pode inventar?

            Hoje mais uma vez, a terra tomada de Pernambuco pelo Rei em 1817, alcançará o centro das atenções no debate político nacional. Alagoas de Gracilianos e Ivos, hoje pródiga em exportar justamente aquilo que tem de pior.

            Alagoas, mesmo assim eu te desejo. Bela e selvagem, como o Tigre de William Blake.







2 comentários:

  1. Muito bom professor. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. "Eternamente serei um estrangeiro". Somos dois!
    Alagoas é um verdadeiro outsider e dificilmente conseguiremos uma explicação para isso.

    ResponderExcluir