Comparados aos jornalistas, os cientistas políticos são
bem-aventurados. Nesse clima de protestos, enquanto o jornalismo (trato aqui do
jornalismo político) tem a responsabilidade de informar uma furiosa sucessão de
fatos, os cientistas políticos têm a chance de correr para a cama quentinha da
teoria. Politólogos podem observar os fatos duma distância longínqua, bem ali
naquelas fronteiras que separam o empírico do filosófico. Triste daquele que
num dia como hoje precisa escrever um texto de três mil caracteres em tempos
que os tweets mais perspicazes têm validade de quinze minutos. Faz um texto
sobre a constituinte! – Não tem mais constituinte; Faz um texto sobre a PEC-37
que estava ali! – Qual? O gato comeu.
Por outro lado, a
ciência também não é essa calmaria toda. Talvez seja tempo de rever minhas
posições teóricas. E se rolar uma crise de paradigma? E se Karl Popper atacar
novamente? – nesse caso, a derrocada de minha teoria predileta é tão certa
quanto o terremoto que vai destruir Los Angeles. Pois é, Mário Quintana, a
esperança é um urubu pintado de verde.
Tenho mais de trinta e preciso achar minha turma. Já decidi. Gostoso mesmo é
ser fanático. Fanático não erra. Fanático está sempre certo. O universo
simbólico do fanático sempre arranja no meio do caos uma bóia que salve o seu
delírio. Para além dos fatos, para além da ciência, para além do universo. O
fanático é foda.
Na panacéia que o Brasil está, jornalistas, políticos
profissionais, sociólogos, donas de casa estão perplexos – exceto o fanático.
Há várias espécies de fanatismo. Eu escolhi ser um fanático político. O
fanático político falando do golpe é minha versão preferida. Para essa
categoria O Golpe de Estado que se avizinha é uma realidade, aconteça ele ou
não. O fanático goza sadicamente com a hipótese do golpe. O fanático luta
decidido contra O Golpe, mas sua apoteose é O Golpe. Há uma delícia depravada
em soltar o grito ainda preso: Eu já sabia!!! Eu avisei!!!
Você pode escolher ser
um “Fanático Político do Golpe” nas cores vermelha ou azul. Eu prefiro a cor
vermelha, não que haja nenhuma superioridade em relação ao azul, não vou gerar
polêmicas que eu não sou disso, mas eu sempre gostei mais de Gabriel Garcia
Marquez do que de Mario Vargas Llosa. Todos deveriam amar o fanático político
do golpe, ele não tergiversa, não tem trololós, não-me-toques ou rapapés. É fácil
brincar com ele: basta dar cinco minutos de atenção que ele começa a gritar:
Fascista, Golpista, Reaça. O azul, por seu turno grita: Comuna, Gayzista e PTralha.
O adjetivo “canalha” é item de série nas duas versões.
O mundo está muito confuso. Só o fanático é ilustrado. Por
isso que gosto de debater com eles – dureza mesmo é agüentar os perdigotos.